25/08/2017

Carlos Drummond de Andrade - 30 anos sem Drummond

Abaixo você poderá acompanhar na íntegra a entrevista realizada com o poeta Amarildo Brilhante da cidade de Araçatuba. Hugo Santos Rocha é o entrevistador do jornal Folha da Região, Araçatuba/ SP. Fotos da matéria em destaque, 17/08/2017.
Qual a importância de Drummond na literatura brasileira? 

Dentro duma perspectiva histórica o poeta traz grandes contribuições na literatura, os valores intrínsecos presente em sua escrita revela a maestria com o uso da linguagem. Ele perpassa de um de know-how, há uma simbiose neste processo que revela seu talento.  
O poeta surge num contexto de ruptura com a tradição literária e dentro deste contexto faz poesia até sobre o banal da vida e através de sua sensibilidade poética estabelece um vínculo com o leitor moderno. Novos rumos, novas poesias, seus questionamentos, seus temas do cotidiano, seus temas dentro de uma estética e profundidade metafísica levam milhões de pessoas a declamarem Drummond pelas ruas, praças e escolas. Fãs se espalham por todos os lados. Drummond deixa um legado de sua capacidade de amar desmedidamente as palavras e pelas palavras e fazia delas um joguete em suas mãos e isto, sem dúvida quer sejam pela inspiração ou pelo labutar com as palavras insistentemente o conduz a um grau de excelência, poemas dos mais variados despertam um olhar de todos por gerações. Uma entre tantas sobre sua importância é pode ligar as pessoas por meio da magia de suas poesias, o seu fazer poético de forma vasta acaba por exercer fascínio nas pessoas.  

Quais os títulos mais marcantes da trajetória do escritor?

Foram 25 livros de poesias publicados e 16 outros envolvendo temas variados sendo eles: contos, cartas, crônicas e memórias. Alguma Poesia; Claro Enigma; A Rosa do Povo; Sentimento do Mundo, Antologia Poética; são alguns livros, todos impressos pela Companhia das Letras do autor Carlos Drummond de Andrade.

Passados 30 anos da morte de Drummond, quais obras do escritor são mais lembradas atualmente? 

Não destacaria em si uma obra exclusivamente, mas sim alguns de seus poemas que permeiam a memória do trabalhador mais simples ao considerado mais refinado na sociedade brasileira e dos quais seriam capazes de reconhecer tais poemas ao ouvi-los onde quer que estejam, a saber, são eles: “No Meio do Caminho”, “Quadrilha”, “Para Sempre”, “Poema de Sete Faces”, “Itabira”, Verbo Ser, “E agora José?”, “Não Deixe o Amor Passar”. Tais poemas estão revestidos de um aspecto seminal, fertilizam, inflamam nos corações e mentes do nosso povo de Oiapoque ao Chuí.

As obras de Drummond tiveram alguma influência em suas criações literárias? 

Creio que as temáticas: viagem, dramas, o amor e o descrédito pela política também fazem parte de minhas produções poéticas. Sigo o gosto pela liberdade linguística, o verso livre, o metro livre, temáticas cotidianas. Assim como Drummond incomparável por excelência, singular, adotando linhas do cotidiano onde o fazer poético resulta também na imbricação de poesia amorosa, irônica, metafísica e social. A dialética de Drummond e a vastidão de temas assumem um papel de influência sobre os amantes da poesia.

Quais pontos da obra do escritor merecem uma atenção especial? 

Um dos pontos que o escritor foi alvejado pela crítica fora o poema No Meio do Caminho que trazia uma redundância de seus versos e utilizou-se do verbo ter, típico da coloquialidade quando deveria à época utilizar-se de haver ou existir. A Rosa do Povo e Claro Enigma são dois livros em que é perceptível numa temporalidade uma mudança na linguagem incluindo-se a descrença com a política. Outro aspecto é a metafísica que não se confunde com a religiosidade, até porque Drummond se desinteressa totalmente em um determinado momento da vida pela religião  passando apenas a ser um admirador de quem exerce a fé. Destaco a crônica: Perder, Ganhar, Viver publicada no Jornal do Brasil, em 7 de julho de 1982 em que fala sobre o não estarmos preparados para a derrota e que nos serve de renovação de vida, mas também aborda que a sucessão de vitórias é prejudicial e ele encerra sua crônica dizendo: “Perder implica remoção de detritos: começar de novo”.
Drummond tem uma qualidade introspectiva depurada beirando um filosofismo, soube trabalhar o concreto através do abstrato com muita perícia, sua delicadeza de emoção e sentimentos, tudo corrobora para o resultado de uma poesia arrebatadora, bem lúcida e encantadora. Sem dúvida um observador muito atento da realidade.

Qual foi seu primeiro contato com o trabalho de Drummond?

Como muitos o primeiro contato se deu através da educação escolar. Uma vez em contato com a obra espontaneamente segui minha trajetória de leituras e pesquisas.

Atualmente o senhor destacaria algum escritor que siga a mesma linguagem poética de Drummond? 

Ler poesia é uma mola propulsora para se escrever poesia, além de outras leituras e Drummond foi afeito a leituras variadas. Não só a leitura, mas também a inspiração, o labutar sobre as letras e até o congelamento de sua produção poética para uma análise futura faz-se mister a qualquer artista literário. Como cada um vê o mundo que o cerca a seu modo, bem como suas leituras se fazem diferentes podem haver divergências e ou convergências, porém cada um com seu tempero para o mesmo evento. Diante disto, prefiro a singularidade poética de Drummond, assim como Machado de Assis é para a prosa.
Amarildo Brilhante, é professor, escritor e palestrante. Formado em Direito, Letras, Técnico em Informática, Técnico em Contabilidade.  


Contato: e-mail: amarildobrilhante@fatec.sp.gov.br