Araçatuba, sexta, 16 de outubro de 2015.
Amarildo Clayton Godoi Brilhante
Pus-me a uma observação e
reflexão de onde estão as borboletas. Lembro-me daqueles dias, tardes e ao
findar da tarde em que eu via e brincava encantado com as borboletas e as
noites com os incontáveis vagalumes. Eles estavam em toda parte.
Lembro-me de haver um calendário
em meus idos tempos para as mudanças das estações do ano. Parecia ser calculado
milimetricamente a saída e a entrada da nova estação, porém hoje na prática as
estações se confundem. Saí a questionar várias pessoas sobre: onde estão as
borboletas? Ficaram perplexas pensando por alguns instantes sem saber a
resposta.
Elas por sua vez eram muitas,
de variadas matizes. Dos mais variados tipos, com seu balé produziam um
fascínio. Ziguezagueando, executando suas acrobacias reúnem-se e com segurança
mostram ao público sua perícia de quem realmente sabe o que faz. A cada movimento
dão o seu espetáculo abrilhantando o lugar onde estão. São artistas por
natureza. São atraentes por essência. Sinônimo de ampla liberdade. Dotadas de
uma intensa magia refletida na sua beleza, singeleza e leveza. Encantam com
seus voos não só as crianças, mas também os adultos. Lembro-me de que quando
criança em Araçatuba, interior de São Paulo, que eu corria alegremente atrás
delas na ânsia de pegá-las e muitas vezes não perdi a oportunidade de
prendê-las entre meus dedos. Minha mão ficava manchada com aquele pigmento, um
pozinho liberado pelas suas asas quando as colocava entre os dedos. Fazia apenas
pelo prazer de pegá-las. Era um desejo maluco, de poder, de magia. Queria
submetê-las a minha vontade, que elas não fossem embora, mas passado os anos
cresci, deixei as coisas de menino de lado e notei: onde estão as borboletas
que até ontem estavam aqui? As borboletas que tanto vi e brinquei em minha
infância? O que fizeram com elas? Por que elas sumiram? Seus bailes eram
fantásticos envolto a multiplicidade de cores... Mataram-nas? Aprisionaram-nas
em algum lugar? Perguntas foram surgindo em minha mente, mas a resposta que
gostaria de ouvir não vinha. Somente conseguia pensar nas atrocidades que o
próprio homem teria praticado. Por que outra razão elas teriam afugentadas
senão pelo estrago do próprio homem. Um deles é o de não plantar mais flores.
Deixaram de semear a beleza das flores dando assim lugar ao cinza monocromático
do cimento e ao preto contido na alma do ser.
Eram a nossa distração. Todavia
hoje algumas pessoas quando as veem nem sequer dão atenção a elas, não têm mais
tempo para apreciar as coisas simples da vida. Mergulhados na tecnologia, a
distração são os celulares, entre os muitos afazeres. A terminologia inovação
ganhou força à medida que as pedras se levantavam, entretanto, a
artificialidade deste novo não foi suficientemente capaz de me furtar a
memória. Os encantos continuam preservados. Um fiel registro. Pois ainda que eu
não as veja com meus olhos naturais posso ao menos contemplá-las ao fechar de
meus olhos como se estivessem aqui ou nos bosques de minha mente. Ao menos
minha alma não deixou que elas se perdessem. Ainda que eu morra as tais não se
apartarão de mim, enquanto que outras gerações talvez, restrinjam-se a
visualizá-las, pelas fotos ou filmes onde se vê o antigo caçador de borboletas.
Será que o homem as colocou cada um em suas caixinhas?
O homem cria seu próprio vale
da sombra da morte. Que avance a selva de pedra, mas que coexista-se com o
verde. A ação humana e a mudança climática parecem ser fatores que contribuem
para o desaparecimento das queridas borboletas. Um sintoma evidente a cada dia
que se passa. Todos os seres têm sido atingidos. São perceptíveis a qualquer ser humano com
uma inteligência mediana a alteração de comportamento das borboletas. Ignorar o
importantíssimo papel climático é uma estupidez.
Os homens semeiam guerras
habitualmente, mas pouco a pouco tem perdido a sensibilidade para as flores.
Ele mesmo tem perdido sem que perceba a beleza, a essência interior para
práticas simples, mas elas, ah! Elas inevitavelmente perceberam isto.
Perceberam que não há mais jardins e quando há você já viu quão feio eles são.
O sumiço delas é um alarme
para repensarmos nossas ações para com o ecossistema. Sofre o ecossistema. Tal
sumiço representa a profecia do caos trazido pelo homem. Tiveram quiçá que
procurar outros lugares, mas a questão é: para onde elas foram?
Há ainda esperança que elas
voltem? Talvez quando voltarmos a cultivar os nossos jardins que a tanto estão
mortos. Elas nos servem como uma espécie de barômetro a fim de detectar os
ataques do homem. O tal progresso a
qualquer custo. A sanha maldita de colocar cimento em tudo.
Que dor! Não era uma dor
física. Silenciosamente invadia a minha alma enquanto eu pensava no sumiço das
borboletas. Imaginei, o quanto o homem se comporta como um predador que semeia
dor. Os sinais do que é belo transmitido por elas quase não se vê mais e, por
quê? Acabaram-se todas as borboletas? Penso que não. Encontram-se em silêncio,
escondidas. Triste nos é a ausência delas. Agora pense, se o pôr-do-sol também
deixasse de existir?
Os jardins precisam voltar a
existir, pois quem sabe assim retornem. E junto com elas a própria exuberância,
o glamour. Possuidoras de sensores, elas são importantes polinizadoras de
diversas espécies de plantas.
Quero estar em meio a elas, quero-as
novamente voando ao nosso redor. Tragam-me também os vagalumes que havia todas
as noites nas chácaras e sítios e fazendas por onde andei. Plantemos plantas e
flores! Os que as capturaram devolva-nos. E agora como trazê-las de volta?
Suspiro... tragam-nas... por favor... Pois, até mesmo elas enfrentam desafios,
sendo o maior deles o de continuar existindo.
Amarildo Brilhante, é professor, escritor e palestrante. Formado em Direito, Letras, Técnico em Informática, Técnico em Contabilidade. Araçatuba /SP. Contato: e-mail: amarbrilha@ig.com.br
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