13/01/2020

Introspecção

                                             Amarildo Clayton Godoi Brilhante
Sentando a mesa lá estava ele. Chovia uma chuva mansa. Estava a descascar batatinhas, destas pequenas que nos servem cozidas. Enquanto chovia a sua frente um celular ligado, assistindo a um belo filme em russo. Colocava-se neste momento a pensar sobre a vida. As maravilhas que lhe causam aquele doce som das águas. Ao mesmo tempo em que imergia nos pensamentos de quantas pessoas passam fome, pensava em como devemos ser gratos por aquela água mandada dos céus. Quem nunca comeu farinha com açúcar, ou somente ovo ou milho de pipoca não sabe o que é enganar a fome. Sentimento de gratidão pairava ali.

Um olhar repentino sobre a tela do celular, contemplando a arte, a arte dos homens e a excelente arte de Deus, um artista impecável diga-se de passagem. Sobre a mesa diversas vasilhas, cascas de batatinhas, jilós. Lentamente, fazia cair as cascas, afinal pressa para que, para onde iria. Sabia que só o fato de estar vivo para contemplar a maravilha daquele som e ver aquelas águas caírem, além dos relâmpagos e trovões era por si só um milagre. O milagre da vida ecoava, vibrava dentro de seu espírito. E enquanto a chuva continuava a cair, continuou ali, na mesma posição como um filósofo, um filósofo que filosofava só, ou talvez não, talvez Deus estivesse a espreitar seus pensamentos em silêncio e no silêncio inquietante da alma se pôs a prosseguir. Quiçá a chuva estivesse aquele santo dia a lavar a sua alma.

Amarildo Brilhante, é  escritor,  palestrante e professor. Formado em Direito, Letras, Pedagogia, Técnico em Informática, Técnico em Contabilidade.  
Esta publicação pode ser citada ou reproduzida livremente, com a condição de que a sua procedência e autor  seja mencionada .

E-mail para contato:  amarildo.brilhante@fatec.sp.gov.br

Facebook: Amarildo Brilhante Brilhante