03/07/2018

A magia de Rubem Alves


Amarildo Clayton Godoi Brilhante

Gostar de um livro é encontrar nele elementos intrínsecos. Qualquer escritor ainda que inconscientemente utilizando-se da mais valiosa matéria prima, a saber, a palavra, tem o poder de invadir o silêncio da alma e remexê-la tão bem a ponto de desencadear o amor ou o ódio, algo que Rubem Alves soube fazer em muitos de seus escritos.
No livro, Um céu numa flor silvestre, objeto de minha análise, verifica-se que há um processo simbiótico, um entrecruzar de sentidos a partir do momento em que o conteúdo do livro e o nosso interior revelam um encontro de teses e antíteses, uma explosão de vontades entre quem escreve e quem lê de fato. Eu me emocionei quando deparei com a narrativa do menino flautista e mais uma vez fica evidenciado que o dinheiro muda opiniões. Quem gosta de ler vivencia o mesmo sabor de quem chora ao ouvir uma música. Seus pensamentos viram um turbilhão, a imaginação solta, voa longe. Quem nunca na sua meninice não brincou com a fantasia ou quem nunca presenciou uma criança e suas fantasias? As representações imagéticas que se formam a cada página são uma constante na obra.
Quem devora livros traz para dentro de si parte do outro, as virtudes são apropriadas, são pixels de sabedoria que se aglutinam formando um todo. A junção dos elementos contido na obra levam a beleza da imagem. Logo, se a obra que se apresenta ao leitor não tem uma boa resolução, ele a abandona. O abandono pode se dar por vários motivos, é claro. Mas a identificação com o aproxima. O leitor pode se enamorar com a obra por um pouco de tempo ou ainda mais um pouco de tempo.  Mergulhar num processo de devorar livros fará com que algo aconteça. Nas páginas iniciais da obra o autor explana questões metafísicas versus a solidez terrena. O autor traça diferenças entre o adulto e a criança onde diz: “Às crianças basta pouco; crianças nunca faz perguntas assim, por isso são mais felizes; crianças são entidades paradisíacas”. Também delineia suas considerações sobre as palavras, dizendo: “as palavras têm um poder de engano infinito, assim como, de feitiço”. Concordo. (Página 30, capítulo 4)
As citações de outros escritores são frequentes em sua obra, tais como: Alberto Caeiro, Fernando Pessoa, Friedrich Nietzsche, João Guimarães Rosa, Manoel de Barros, Octávio Paz, Wittgenstein, entre tantos outros. Consoante o autor, as projeções que um indivíduo faz formam os contornos da pessoa que fala. Só quem ler o capítulo 5, da parte I, entenderá o que é encontrar um pinho de Riga ao final do trabalho. Na parte II, fala sobre amigos e conhecidos que são agraciados, história de pessoas que receberam dádivas dos deuses. Fala sobre o fracasso dele em tocar piano e conclui: “o piano não estava dentro de mim, embora o amasse, mas com o Décio foi diferente.” Fantástica a menção a Nelson Freire. E Rubem arremata com uma frase impactante: “os deuses são injustos.” Ouvir o Nelson é uma experiência de assombro, diz ele. Sem dúvida, a maneira como deixa evidenciado o dom de Nelson, deveria ser extraordinário estar presente para ouvi-lo. Eu gostaria também de presenciar só para ouvir o Nelson. O escritor soube explorar muito bem sua vertente de teólogo e psicanalista. Uma verdadeira aula em suas frases-efeito as quais um leitor atento viaja em reflexões. E o leitor acaba por concluir com a seguinte exclamação: Fantástico. Caminhos dialógicos, experiências e textos que nos levam a entendermos um pouco mais acerca da vida. Ler Rubem Alves é gratificante, é aquisição de conhecimento garantido, é embebedar-se na sabedoria humana.
Para ele, vivemos os assombros da vida. A correria e loucura dos nossos dias não nos permite ver. Ou será que permite, mas optamos por sermos cegos? Passamos de um lado a outro e não nos detemos a beleza dos pássaros, flores, cores, geometrias e etc., mas nos mergulhamos incansavelmente nos logaritmos neperianos, orações subordinadas, fases da mitose. Vês! Você tem um rio que corre. E a tua vida corre para qual lado? Os pés não caminham sozinho, as pernas não caminham sozinhas, aonde vão levam consigo o corpo. E aí, ler ou não ler? Eis a questão! Leio, por que existo.
E para finalizar dizem que ele teria escrito: "Já tive medo de morrer. Não tenho mais. Tenho tristeza. A vida é muito boa. Mas a Morte é minha companheira. Sempre conversamos e aprendo com ela. Quem não se torna sábio ouvindo o que a morte tem a dizer está condenado a ser tolo a vida inteira." Ilustre e encantável este imortal Rubem Alves. Está esperando o que para lê-lo?  


Amarildo Brilhante, é professor, escritor e palestrante. Formado em Direito, Letras, Técnico em Informática, Técnico em Contabilidade.  

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18/03/2018

Um olhar sobre a obra literária Amor Dom Maior



O acadêmico e escritor, Amarildo Brilhante trouxe ao público araçatubense a oportunidade de desfrutar de uma temática que todos apreciam: o amor. Sua obra do gênero poesia, lançada em 21 de fevereiro de 2014, no MAAP, foi publicada pela Editora Somos. O poeta ao falar de amor em sua obra traz à baila os tipos de amor, a saber, o “eros” e o “ágape”.
Nos dizeres do prefaciador Hélio Consolaro há um título que se apresenta por si onde o amor é conceituado, vivido e testemunhado e Brilhante se posiciona como um poeta do “status quo”, o leitor vai encontrar em seus poemas reflexões do interior se interagindo com o exterior. Brilhante é resultado da liberdade linguística herdada com o Modernismo, logo, o verso livre, o metro livre, as temáticas cotidianas vão se fazer presente em sua obra poética. Em se tratando de um dos maisemblemáticos poetas da nossa literatura Carlos Drummond de Andrade deu início a sua carreira literária com o livro Alguma Poesia (1930), fazendo uma tiragem de 500 exemplares, com recurso próprio, com poucas páginas, poucos poemas. Brilhante, com sua obra Amor Dom Maior (2014), parece ter-se espelhado em Drummond, poeta do qual é admirador. Sua obra também teve uma tiragem de 500 exemplares, foi lançado com recurso próprio e que lhe rendeu portas dentro da carreira literária, entre elas o ingresso à Academia Araçatubense de Letras. Todavia, Brilhante não ambiciona ser um Drummond. Interessante do ponto de vista das coincidências, nada mais. Um adjetivo que bem resume este raciocínio: “legal”. Quiçá, um dia tenhamos um brilhante abrilhantando no cenário nacional e mundial.
O poeta araçatubense adotou o uso de versos livres e a intertextualidade, esta recorrente entre um verso e outro. Tornou-se uma marca fazendo, entretanto, referência aos grandes poetas do Modernismo brasileiro, sendo eles: Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Para falar de amor é preciso sensibilidade, pois amor é sinônimo de sensibilidade, e sem ela é praticamente impossível se fazer poesia. O amor é fundamental tanto para a vida do indivíduo quanto para a composição poética, embora, as pessoas pareçam ter esfriado para o amor. O poeta tem uma postura dialógica diante do mundo que o cerca e a poesia e a arte são expressões subjetivas das quais o poeta se vale. Em alguns de seus poemas o poeta rompe com a uniformidade dos pronomes de tratamentos e se vale da licença poética criando o poema “Confusão de Pronomes” para justificar a irregularidade.
Os dois tipos de amor, no idioma grego antigo, são tema dos 25 poemas do livro. Classificação que surge consoante o sentimento se manifeste. O “ágape” é sinônimo de divino, de um afeto transcendental, já o “eros” refere-se ao carnal aquele que instiga o homem e a mulher. A coleção de poemas agrada aqueles que tem sintonia com o belo, o amor e a paz. Vale a pena ler a obra, um verdadeiro canto ao amor. 
No comentário da leitora Rebeca Machado Carneiro ela pontua dizendo: “Um livro com poemas encantadores que aguçam a curiosidade do leitor à cada página. O autor aborda o amor e suas diversas faces e formas, o que faz com que nos vejamos por diversas vezes em seus poemas. Entre todos os poemas, ressalto o meu favorito “Quem sabe outra vez”. Um ótimo livro, que vale a pena ser lido mais de uma vez! Já o leitor Sérgio Ricardo Martos Evangelista mencionou: “De uma só vez li o seu livro de poemas com o intuito de captar as diferentes maneiras de amar.  "Confusão de Pronomes" foi o poema do qual mais gostei. A metalinguagem, as relações do "marfim" (gramática) com o pulsar dos sentimentos. "Admiração" retrata o amor em potência, que pode transformar-se em ágape ou em eros.  "Drogas" é o amor ao futuro. A experiência de vida confrontando as ilusões de ótica trazidas pela ‘vidaloka’”. Tão logo, não deixe meu amigo, minha amiga de apreciar esta obra literária.

Amarildo Clayton Godoi Brilhante, é escritor e membro da Academia Araçatubense de Letras. Autor do livro Amor Dom Maior. 

E-mail: amarildo.brilhante@fatec.sp.gov.br