30/04/2014

Errabundos



Araçatuba, sábado, 23 de junho de 2001.

         
O pior cachorro é o de duas patas, pois comanda o de quatro. Numa parcela de pessoas que não se preocupam com o bem-estar comunitário, é demasiadamente difícil trabalhar a conscientização. São pedras de tropeço.

Endemias como leishmaniose, raiva, dengue e outras, assombram. Ao que parece, os comportamentos afins entre o homem e o canino são os motivos que têm desasossegado o trabalho dos profissionais das vigilâncias. É preciso entender que uma vez dedectada a doença o animal deve ser sacrificado, para não colocar em risco a vida humana. Não sou favorável à matança indiscriminada, contudo, percebo inversão de valores, em que o animal vale mais que o homem.

Em 1999, foram detectados 15 casos de leishmaniose, com duas mortes. No ano passado, 12 casos e, recentemente, constatou-se seis casos, com o falecimento de Stefany Augusta dos Santos, bebê de apenas quatro meses.

Os cães não são os únicos responsáveis pela baderna, mas, sobretudo, os homens que têm sido negligentes e imprudentes. Muitas vezes, há irresponsabilidade por parte das pessoas, que não têm apropriadas condições financeiras para cuidar de si e querem abelhar-se no tratar dos cães. Alimentados inadequadamente, remetem ao relento. Liberam os cães para passeios nas ruas como se não fossem causar males aos transeuntes.

Quanto tempo ainda será dispensado com campanhas educativas? Custa a entender o de duas patas. Temos tantos araçatubenses ignorantes e irresponsáveis? Rever conceitos é tão importante quanto limpar a casa. Sua excelência e vereadores precisam ser enérgicos e precisos na elaboração de leis. Temos exemplos de países desenvolvidos como Japão. Esperar o quê? Mais mortes? Educar sim, punir se necessário.

Amarildo Brilhante, 41 anos, é professor de Língua Portuguesa e Ética da Etec de Araçatuba e Inglês da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo, em Araçatuba/ SP. Formado em Direito, Letras, técnico em Contabilidade e Técnico em Informática.

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02/04/2014

Legalizem o estupro

                                          Araçatuba, terça-feira, 18 de outubro de 2005.

A revista Veja usou de ironia e mentiu. Quem garante que a Veja não recebera dinheiro da indústria das armas para defender o "não"? Quem garante que a reportagem de capa do "não" não tenha sido uma jogada de marketing? Embora a lei vigente permita que revista e jornais impressos possam se manifestar, a Veja cometeu um grande erro ao tentar influenciar, pois deveria apenas informar. 

A Campanha do "sim" começou tímida e de ambos os lados está fraca e não está muito informativa e esclarecedora. Por outro lado, as emissoras televisivas não estão cumprindo o seu papel de informar convenientemente os telespectadores (art. 221 da Constituição Federal). A televisão e as rádios estão proibidas de se posicionar a favor do "sim" ou do "não".

Segundo entendimento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), se assim não fosse, estas poderiam influenciar a opinião de 70 milhões de eleitores semi-alfabetizados. Se permitisse as emissoras se posicionarem, teria uma guerra em torno do assunto que possibilitaria um maior ganho para o povo e não restando assim espaço para essa coisa morna, quase morta.

Até porque a maioria do povo se informa através da televisão e quase todos têm o aparelho em casa. Equivocou-se o TSE ao restringir as emissoras de rádio e tevê. Ainda são necessários mais debates (a "poderosa" Globo ainda não se manifestou), mais esclarecimentos sobre o Referendo e o Estatuto porque as pessoas confundem ambos.

Quando falamos em desarmamento, já o temos pré-estabelecido desde o vigor da lei 10.826 em 22 de dezembro de 2003, pois se olharmos para os artigos 4.º, 6.º e 10.º vamos notar quem poderá ter posse e porte de armas é um rol muito restrito de pessoas (ver: Decreto 5.123). As armas ilícitas têm de ser devolvidas obrigatoriamente, mas aquelas devidamente registradas e compradas (direito adquirido/ato jurídico perfeito) pelo "cidadão de bem", não é obrigatória sua devolução, e sim a transferência de registro estadual para federal.

No Brasil, há um problema seriíssimo que nos afeta, que é a lei considerada avançada, mas que não funciona porque não há fiscalização e seriedade, daí, então, a falta de credibilidade dos governos. Para se comprar uma arma hoje é necessário ter o curso de tiro.

Há muitas confusões que ainda permeiam o imaginário das pessoas, por exemplo: o Estado pode tirar o meu direito de defesa? Se o "sim" vencer onde se comprará munições nos casos permitidos por lei? Este será regulamentado por lei. A quantidade de munição que cada pessoa poderá ter é atribuição do Exército.

A Adepol (Associação dos Delegados de Polícia) entrou com ação no Supremo Tribunal Federal alegando inconstitucionalidade do referendo. O que inexiste é inconstitucionalidade e vão amargar essa derrota. Agora é estranho que a mesma polícia que diz "Nunca reaja a um assalto" vem, posteriormente, defender o uso de armas por civis. É paradoxal ter arma, mas não poder usar num assalto.
Num país onde as armas matam mais que acidente de trânsito, é importantíssimo que o Estado legisle sobre o direito de ter armas com prioridade ao direito de o cidadão ter à vida. Se a proibição não ajuda resolver parte do problema, então, que tal legalizar o estupro, as drogas, o aborto, a prostituição, a corrupção, o tráfico de órgãos, de crianças, de animais. Um pouco de paternalismo não faz mal.

O Estado tem o direito de resguardar a vida como fez com a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança, da regulamentação da velocidade nas pistas por entender que o direito de ter um carro e o direito de usufruir de toda potência do motor colocaria em risco a vida do condutor e de outras pessoas.

Hoje na Grã-Bretanha é necessário apresentar uma boa razão, como estar associado a um clube de tiro, para ter direito à posse da arma, pois a simples alegação de autodefesa desde 1967 não convence.

Vale lembrar que o argumento usado pelo "não" de que a briga do bar não envolve a posse de arma e sim o porte (proibido para a maioria) é uma meia-mentira travestida de meia-verdade, pois quem tem a posse e perde a cabeça vai até em casa e depois retorna armado para matar o outro. É claro também que quem tem armas em casa acaba distribuindo gratuitamente aos bandidos numa situação de assalto (sempre há exceções).

A Revista Veja usou de ironia ao usar o logotipo do Instituto Sou da Paz e mentiu quando em sua capa e na página 79 mostra somente armas de uso restrito das forças armadas possibilitando a leitura de que somos ou seríamos ameaçados por essas armas no dia-a-dia. As armas que mais assustam e destroem hoje são revólveres calibre 38 e pistolas.

Falhou ao falar do desarmamento envolvendo Hitler. Uma boa aula de História ou Sociologia teria resolvido o problema. Esperamos que até o Referendo as pessoas estejam bem informadas porque sem informação não se produz conhecimento. Pense em ser "sim", respirar "sim", viver "sim" e em votar "sim", pois este movimento de desarmamento surgiu com as ONGs que atenderam o clamor das vítimas da violência.

(Texto publicado no caderno Cidades, 18 de outubro de 2005, jornal Folha da Região, Araçatuba/SP).


Amarildo Brilhante é professor, pós-graduando em Línguas e Práticas Pedagógicas em Comunicação e Linguagem e coordenador da Campanha de Desarmamento pela ONG Rede Cidadania em Araçatuba. E-mail: amarbrilha@ig.com.br


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