Morte! Ó
morte! Que cedo ou tarde venha, final da existência humana, pouco importando os
seus sinônimos. Ao de cujus querem os vivos arrumar lá seus eufemismos. Nos
velórios o que se ouve sempre é: ele descansou, foi para um lugar melhor... Palavras
de consolo, apenas. Mas seja lá um passamento, óbito ou falecimento, no fundo
no fundo todos querem seu adiamento a não ser que o muito sofrimento peça-lhe
um adiantamento sem troco nem pagamento.
Vida e
morte caminham lado a lado. Dentro da magnitude do processo da existência
humana existe apenas uma linha tênue entre ambos. Primeiro a vida, segundo a
morte. Surge, evolui, dá seus ares de graça, segue seu curso natural. Já o envelhecer
é sorver-se da morte a passos lentos. Esta ordem natural intrínseca haveria
como mudá-la? Talvez, não.
Em se
pensar nela, por si só coisa boa pode não ser, pois bate aquele estranho
sentimento. Não nos importa como: morte é morte. Ausência de vida. A carne
passa com suas vaidades. Tudo é passível de morte. Os homens, as plantas, os
rios, os animais, os sentimentos, os sonhos, tudo está passível. Princípio e
fim. Pouco importando se abstrato ou concreto. Quantas consciências vencidas pelo
espírito da morte? Encontram-nas em meio ao caos. Em vida enterram-se vencidas
pela balbúrdia, pela imoralidade, pelos convites enganosos conduzindo-se ao
cativeiro. Enfim, morte. Silenciosa. Pouco a pouco.
Morte é o
passaporte carimbado da partida. É o veneno que não queremos tomar. Passagem
pro além, processo irreversível, tal como a chegada. Alguns, são cartas
marcadas. Há uma sina quer na chegada quanto na saída. Assim que chegam dão seu
último suspiro. Derradeira partida. Pronto lá está sua partida anotada em seu
prontuário. Por demais triste. Tão cedo, as razões extrassensoriais, ninguém
sabe ao certo.
Morte é o
rebento para a eternidade. Ela nem sempre representa o fechamento, mas às vezes
a possibilidade de recomeçar, como por exemplo: a falência de uma empresa ou o
término de um namoro. Intercorrências espontâneas da vida.
A morte
nem sempre representa o fim. É preciso celebrá-la como uma passagem. Veja a
vida eterna. Não tê-la-ia quem não desgarrar-se da matéria corporal. Um novo
começo. A semente precisa morrer para que a planta surja. O enterro de um
casamento pode ser a oportunidade de algo especial até então nunca vivenciado.
É o novo surgindo onde não havia esperança de luz. Ou ainda a perda de um emprego
impulsionando a um salto qualitativo e quantitativo, o sucesso.
Em meio a
desgraça da morte, às vezes, é possível ganhar. Vede lá as sedentas funerárias.
A morte lhes é lucro certo. Se alimentam dos corpos cadavéricos. A herança não
se achega ao vivo enquanto não houver uma partida. Ainda que
se seja um cético, entre as muitas dúvidas, a única certeza: o dia da partida
poderá tardar, mas há de chegar.
Morte é
mais que uma simples encrenca à máquina humana. Põe fim aos sonhos, produz
estranhamentos, conduz ao ostracismo em vida.
Morte é
mais que um alistamento esperado. E querendo ou não todos estão previamente
escalados e quando menos se espera cada um há de assumir sua titularidade.
E entre as
oitenta e oito constelações, nesse imenso universo, é possível um dia tornar-se
uma estrela? Há esperanças de vida não se sabe como, nem onde do outro lado da vida, se da carne a morte terrena finda. Aguardemos, então até o porvir.
Amarildo Brilhante, é professor, escritor e palestrante. Formado em Direito, Letras, Técnico em Informática, Técnico em Contabilidade.
Contato: e-mail: amarildobrilhante@fatec.sp.gov.br
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