25/06/2015

Ofício

Artigo de Opinião

Araçatuba, sábado, 4 de agosto de 2001


Amarildo Clayton Godoi Brilhante


"Tira la piedra y esconde la mano". Ver as coisas num único prisma é prejudicial. Quem vivenciou e vivencia o arcabouço real sabe o que subscrevo.
Os professores gemem e penam para lecionar dia-a-dia. Se dum lado o professor brasileiro está entre piores doutro lado as famílias desestruturadas em grande percentagem invalidam o labutar conferido ao professor. Não se trata de relativismo nem achologia. É realismo. Como isso é possível? Sinteticamente dando-lhe maus exemplos. Consideram que os professores ganham estupendamente e que são rodeados de regalias, etc. Valores entre décadas passadas, presente e futuro, estão cada vez mais acentuados e díspares. Um dos grandes projetos de Deus é a família e agregá-la a princípios morais e espirituais.
Atrás, está um Estado calamitoso que não consegue cumprir nem com suas funções básicas (educação, segurança, saúde) e ainda dispõe das responsabilidades centralizando em parte ao município ou entregando a setores privados. Nesse contexto, todos somos inseridos no texto. Somos estatísticas dos pseudo-intelectuais, pseudodemocratas. Uma política que prega facilidades aos alunos em nome da não repetência, vincula-se a estatísticas, visa ludibriar e apresentar resultados a organizações internacionais. Com isso, talvez, diminua o número de analfabetos, conquanto produz-se em maior escala os chamados analfabetos funcionais.
Versai-vos nobres professores veteranos-especialistas vossa lúcida expressão angariada do passado histórico e que pouco a pouco se esvai nessa juventude. Tenhais visão dum quadro clínico-geral diferenciado ou hás de concordar? Assim como em outras áreas, há muitos que estão prontos a prefulgurar, pois o que falta a eles são incentivos.
Vale relembrar que 90% desses professores são oriundos de famílias humildes. Que chegaram onde chegaram por envidar esforços. Condeno com veemência que professores tenham que pagar quaisquer taxas junto a universidades estaduais ou federais e ainda prestar exames a fim do ingresso em pós-graduação, etc. Pra que prestar exame? Não é a valoração do ensino público que está em jogo? Importa que haja disponibilizado salas, aparatos técnicos e etc., para que o professor se sinta corroborado.
Aliás, deveria haver leis específicas beneficiando aos acadêmicos da carreira magisterial, como estipular a faculdades particulares que o valor das mensalidades não exceda o salário mínimo. O que não tem ocorrido por parte do governo em nenhuma instância. A classe encontra-se impotente diante dessa realidade. Prova contundente foi a greve malograda e as mãos atadas diante de um estatuto (Eca) que, quando lembrado, remete somente aos direitos da criança e adolescente, quase nunca aos deveres. Talvez, devido a esse fato, presencia-se a crescente indisciplina.
De secundário transformaram em primário. A disciplina tem que partir do seio familiar. A escola ocupa um papel secundário. Asseguro que os direitos se façam necessários à criança para que inexista exploração ou ditatorialismo. As coisas devem estar atreladas ao equilíbrio, visto que, o que foge ao equilíbrio, entra no anormalismo da sociedade. Os professores atuais são frutos arrolados do ontem. Passou de nós o tempo majestático. Somos vassalos.
Hei de parar aqui. Acabou o papel e não tenho dinheiro para adquirir outro. Quem dirá para aperfeiçoamento. Estado dá-me papel monetário para continuar! Valha-me Estado, valha-me Deus! Sufocam-nos como desvalidos.

"Um povo ignorante será sempre um povo pobre" (Rui Barbosa).


http://www.folhadaregiao.com.br/jornal/2001/08/04/arti01.php

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Amarildo Brilhante, é professor, escritor e palestrante. Formado em Direito, Letras, Técnico em Informática, Técnico em Contabilidade. Araçatuba /SP. E-mail: amarbrilha@ig.com.br

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