27/05/2015

Desarmamento final

Araçatuba, quarta-feira, 5 de outubro de 2005

Amarildo Clayton Godoi Brilhante

Se o cidadão araçatubense fosse convocado a participar hoje de uma passeata sobre o desarmamento, eu me decepcionaria com o número de participantes? Por que as pessoas parecem estar passivas e indiferentes frente às causas sociais esperando que elas resolvam por si só? Alguns criticam o alto índice de violência armada e querem resolver a situação permitindo o comércio de armas, estranho não? Por que os defensores da arma não apontam soluções e se unem para minimizar a criminalidade que assola o Brasil?

Este se encontra em 2.º lugar em homicídios causados por arma de fogo. É bom que se diga que o custo econômico com o tratamento das vítimas baleadas é alto e onera o Estado. A verdade é que o excessivo apego aos bens materiais leva estas pessoas a se comportarem assim. Muitas delas são egoístas, não fazem uso da empatia e muito menos sabem o que é sinergia a não ser quando tem interesses pessoais em jogo.

Barbosa Lima Sobrinho, falando de ética para a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), disse na ocasião: "Todas as vezes que me chamaram, eu sempre disse presente. Nunca em causa própria, mas sempre em causa pública". É esta disposição que falta a muitas pessoas.
Quando santo Agostinho disse que "as duas filhas da esperança são: a indignação e a coragem", percebe-se que alguns estão indignados com várias coisas, mas quando são chamados a participar, ser colaborador, militar em torno de uma causa, aí lhe falta coragem. Dão desculpas como: não posso, não tenho tempo, fica para a próxima, coisa típica de perdedores e de pessoas sem ideais para sua cidade. E sem coragem não se muda nada.

Em vários lugares desse país existiram debates, setores se mobilizando. Externo o meu respeito ao jornal Folha da Região que desde o começo tem se preocupado em dar cobertura ao Referendo e à Campanha do Desarmamento e em conscientizar a população. Parabéns! É de veículo comprometido com os ideais do povo e da democracia que precisamos.
Votar NÃO (número 1) é deixar de fazer algo por esse país. Votar SIM (número 2) é tentar, é buscar novos caminhos a fim de minimizar o uso de arma de fogo, é conservar a esperança de que a situação pode mudar. O que estamos fazendo ou deixando de fazer por essa cidade ou país? Continuaremos empilhando os mortos? Vamos matar uns aos outros sob a alegação de que o estado não dá segurança e que tenho a liberdade de ter armas para matar?

Hitler de posse da tecnologia da qual dispôs fez um mal ao mundo e alguns silenciosamente fazem mal todos os dias. Antes de essa violência armada existir, ela aconteceu lá atrás quando mataram o sonho daquele jovem dizendo que ele não ia dar em nada.
Fecharam muitas e muitas vezes as portas para ele, não oportunizaram seu talento e, por isso, com o tempo o brilho em seus olhos foi sumindo e ele começou a frustrar-se e odiar toda a sua vida e depois de odiada a sua vida como é que ele amará o próximo, sendo que ele mesmo nunca foi amado.

Quantos não são os pais que dizem: seu burro etc., que mandam o filho comprar bebida alcoólica e cigarro no bar e depois querem um filho exemplo. São adolescentes que passam por tal situação ou semelhante que futuramente serão contados nas estatísticas da violência. Diminuir o número de armas é fundamental.

É engraçado notar que alguns defendem o uso de armas sem tê-las e vão passar a vida toda sem armas, ou seja, defendem aquilo que não vão usar. Seria ilusão pensarmos que a Campanha do Desarmamento do governo federal vai desarmar bandidos.

A indenização de R$ 100,00 a R$ 300,00 é apenas um incentivo para que as pessoas devolvam as armas. Quem foi que disse que o "cidadão de bem" armado é o primeiro a dar o tiro numa situação de conflito? Se isso acontecer será que essa pessoa está técnica e psicologicamente pronto para matar alguém? Em suma, só há governo ruim para povo desorganizado. A população de Araçatuba dormita. Desperta, tu que dormes!


Amarildo Brilhante, professor e pós-graduando em Línguas e Práticas Pedagógicas em Comunicação e Linguagem, é coordenador da Campanha de Desarmamento pela ONG Rede Cidadania em Araçatuba. E-mail: amarbrilha@ig.com.br 

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